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Incentivos, fraudes e ESG

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Por Jonathan Mazon

Nos últimos dias, muito se discutiu sobre a potencial arbitragem da CVC contra alguns de seus ex-administradores por conta de erros contábeis que aumentaram artificialmente os resultados da companhia, pelo menos entre os anos de 2015 e 2019. Uma vez aprovada em assembleia geral por seus acionistas, essa ação teria como objetivo principal recuperar parte dos incentivos de desempenho concedidos aos ex-administradores supostamente envolvidos.

Embora não seja possível prever o resultado dessa arbitragem, é bastante claro o impacto desse imbróglio na reputação e no valor de mercado da companhia. Avaliada em aproximadamente R$9,5Bi no início de 2019, antes da divulgação dos erros contábeis, a companhia teve o seu valor descontado em praticamente 90% com a confirmação desses erros, pouco mais de um ano depois.

Os indícios encontrados pelas investigações, conduzidas por profissionais externos sob a supervisão do conselho de administração, apontam para a possibilidade de que os lucros inflados estejam relacionados às políticas de incentivos dos executivos da companhia, atreladas ao desempenho das suas ações na bolsa de valores. Esse momento em que as boas práticas ambientais, sociais e de governança (ou ESG, na sigla em inglês) ganham tração no mercado, talvez seja uma bem-vinda oportunidade para assembleias gerais, conselhos de administração e comitês de auditoria e remuneração liderarem a implantação de políticas e mecanismos mais assertivos para vincular as culturas de integridade que querem construir para seus colaboradores no longo prazo com os exemplos dados por seus executivos no cotidiano.

Se por um lado não está clara a forma como as potenciais fraudes na CVC poderiam ter deixado de ser detectadas pela estrutura de governança e controles internos da companhia, por outro lado não há dúvida de que as métricas usadas na definição dos incentivos de seus administradores poderiam ter sido com relativa facilidade avaliadas, comparadas com outras referências e redesenhadas para melhor refletir os comportamentos desejados desses profissionais, tais como geração de resultados de longo prazo, boa relação com a ética e alinhamento aos valores da organização.

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