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Lições de compliance, governança e ética que podemos extrair do caso Wells Fargo

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Por Jonathan S. Mazon >

Há poucos dias, tivemos os meios de comunicação a divulgar as multas sem precedentes aplicadas ao ex-CEO e a outros dois ex-executivos do Wells Fargo, pelo principal órgão regulador federal do setor bancário norte-americano (o Office of the Comptroller of the Currency). No caso do ex-CEO do banco, a penalidade envolveu também a proibição de ocupar novas posições em empresas do setor.

A todos que se interessam por temas relacionados a compliance, governança corporativa e ética nos negócios, uma leitura sempre atual é “The Seven Signs of Ethical Collapse: How to Spot Moral Meltdowns in Companies… Before It’s Too Late“, de Marianne M. Jennings (em tradução livre, algo como “Os sete sinais de colapso ético: como detectar a falência moral em empresas… antes que seja tarde demais”).

Além de inúmeros insights relacionados à detecção de fragilidades nas áreas de compliance, governança corporativa e ética, o livro traz também propostas bastante sensatas de medidas que as organizações podem adotar para evitar crises de credibilidade e reputação (como foi o caso do Wells Fargo) e, eventualmente, colapsos financeiros causados por essas fragilidades.

Em resumo, os sete sinais são os seguintes:

  1. Pressão pelo atingimento de resultados inatingíveis a qualquer custo

O Wells Fargo passou por uma grave crise de reputação em 2016, quando se tornaram públicos milhões de casos de fraudes na abertura de contas e na venda de produtos bancários sem autorização dos clientes. Investigações governamentais e independentes revelaram a pressão desumana exercida pelos líderes da instituição por resultados irreais em comparação com o setor como causa das fraudes cometidas pelos colaboradores. Tudo sem conhecimento adequado ou providências efetivas da estrutura de governança do banco.

  1. Medo e omissão

Hoje sabemos que, até 2016, os principais executivos do Wells Fargo definiam metas tão irreais e criavam ambientes tão autoritários, que os demais colaboradores que desejavam permanecer empregados se viam sem saída a não ser deixar de lado a ética para atingirem as metas impostas. Ainda assim, sabe-se que diversas denúncias foram feitas, mas nunca levadas a sério pela organização.

A existência de uma estrutura de compliance efetiva, acompanhada de canais seguros pelos quais os colaboradores pudessem ter relatado os problemas éticos sem medo de retaliações, poderia ter evitado a grave crise de reputação ou reduzido drasticamente suas consequências para o banco.

  1. Colaboradores jovens e principal executivo acima do bem e do mal

Assim como no caso do Wells Fargo, organizações de todos os tamanhos e setores ficam em dúvida sobre o que fazer quando algum de seus principais executivos é também o principal responsável por perpetuar uma cultura antiética entre os colaboradores. Nesses casos, a implantação de uma estrutura de governança robusta e a adoção de boas práticas de transparência podem evitar a disseminação condutas indesejáveis.

  1. Conselho de Administração fraco

Embora a definição do perfil de um Conselheiro seja, em sua essência, uma missão relacionada à gestão de pessoas, dada a importância desses indivíduos para a estrutura de governança da organização, é sempre recomendável que as áreas responsáveis examinem e opinem sobre a existência de vínculos pessoais, conflitos de interesse e eventuais sinais de alerta.

Interessante notar que no caso Wells Fargo, os órgãos e as políticas existentes em 2016 pareciam adequados em tese, o que é indicativo de que a estrutura de governança, assim como os processos e controles não funcionavam como deveriam.

  1. Conflitos internos

Quando falamos de conflitos de interesses nas organizações, a partir de um pequeno desvio de rota e após um período mais longo de tempo sem correções, torna-se muito fácil chegar a grandes erros de julgamento. Isso envolve desde a decisão de conceder parcela relevante da remuneração de Conselheiros em ações da própria empresa até a adoção de ações disciplinares de maneira uniforme para líderes e subordinados por violações a políticas da organização. No caso Wells Fargo, certamente foram anos até se chegar a milhões de fraudes.

  1. Inovação a qualquer custo

Além do caso Wells Fargo, o mercado ainda tem vivo na memória o caso Madoff, cuja firma de investimentos dava aos seus investidores retornos entre 12% e 13% em dólares, ao ano, de forma constante, ao longo de décadas. Embora a desconfiança dos investidores e do restante do mercado fosse crescente no período próximo à descoberta das fraudes, em 2008, estima-se que aquela gestora de investimentos pode ter operado desde os anos 1970 nesse que se tornou o maior caso de fraude a investidores da história dos Estados Unidos, com um valor total de $65 bilhões de dólares.

Sabemos que tanto Madoff quanto Wells Fargo investiram em códigos de ética e em treinamentos de ética e integridade. O que parece ter faltado em ambos os casos foi treinar os colaboradores para resistirem à pressão de seus líderes e de seus pares quando recebessem ordens que os obrigassem a fazer algo não ético ou ilegal.

  1. Excelência e bondade em algumas áreas para compensar mediocridade e maldade em outras

Seja pela truculência de seus líderes, pela falta de valorização dos profissionais, por climas organizacionais ruins ou por outros fatores semelhantes, parecia haver um claro descompasso entre a realidade e a imagem institucional projetada nos planos de comunicação do Wells Fargo. Para o público externo, resultados financeiros espetaculares em relação às médias do setor, para os colaboradores, cobranças vexatórias e temor por demissões sumárias. A efetiva aplicação de um código de ética e conduta para toda a organização poderia ter ajudado a resolver a situação antes da crise.

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